Equinócio de Outono -2018
Esse ritual teve dois atos.
1º ato
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Foto pessoal |
Eu espero o outono como uma
criança espera o Natal. Eu e ele somos amigos de longa data e sempre que lembro
do inicio do meu caminhar, é nessa estação que minhas lembranças residem. A
sensação daquele ventinho timidamente gelado que dura poucos segundo, é
esperada com paixão todos os anos. E quando ele chega, traz em si as palavras
há muito sussurradas pelos antigos.
É época de cuidar da casa e de
tudo o que se relaciona com ela e como estou numa vibe bem caseira, coloquei as
mãos á obra. Preparei o meu lugar de poder, pensei ações para serem executadas
durante esse período, troquei impressões com as amigas bruxas.
A noite caiu, o cheiro de canela
permeou meu lar, o material foi colocado a postos, os banhos foram tomados.
Todos em casa dormiam e eu fui cuidar daquilo que tem que ser feito. Sem
pedidos, fiz um grande balanço de tudo o que colhi nos últimos tempos. Nesses
momentos me dou conta do quanto a minha vida é especial, rica, graciosa. Mesmo
os momentos difíceis que passo, esses calos na alma; me fazem querer agradecer
essa mulher que me tornei/torno a cada curva do caminho. Eu lutei muito para
ser essa que sou e tenho lutado cada dia mais e principalmente contra mim mesma,
portanto perceber em dias de maré , o
meu poder é algo que ainda me enche de maravilhamento. E não é isso que
artistas precisam para viver? O que seria de mim sem o maravilhamento que as
coisas em causam! E me dar esse olhar é tão incrível que não dá para resumir
num pequeno texto como esse.
Cheiros, músicas, agradecimentos,
energias.
Velas acesas, agradecimentos feitos.
Fico a mirar as chamas dançando e deixando a luz me levar em seu colo.
2º ato
De repente, meu filho aparece com
seus passinhos de meia e fica encantado com as muitas velas acesas e outras
tantas em cima da mesa. Conta e entende que aquelas eram para as pessoas da
casa. Só que ele detectou dois problemas muito sérios e foi solene em suas
colocações: os cachorros moram aqui e não tem velas pra eles! E precisamos
acender uma vela na rua ( na rua!!!) para as pessoas não ficaram doentes.
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A vela negociada.Na rua não pode,ok?- Foto pessoal |
Tivemos um momento de conversa
onde tive que me abrir para negociações referentes às velas. Depois perguntei
se ele queria saber como era o processo de acendê-las, que era um pouco
diferente das velas de aniversário. Ele se mostrou muito disposto a aprender e
assim foi. Ensinei de maneira que sua mente de 5 anos pudesse compreender,
inclusive normas de segurança. Tudo feito, ele me chamou para uma conversa e
ficamos sentados conversando até nem sei que horas.
Foi a primeira vez que ele participa
ativamente de um ritual, mesmo que o final dele. Não o educo dentro da minha fé
(que é a do pai também), pois pensamos que crianças precisam saber quem são e como
agir no mundo ,então fé e espiritualidade nunca foi um norte por aqui. Não
diretamente. Não há deuses, há os elementos, a lua que o lugar onde os mortos
vivem (!!) e o rei sol pai das estrelas. Ele cria sua mitologia e elas viram
histórias.
Confesso que meu coração se
aqueceu absurdamente com a atitude dele, mas fiquei atenta aos significados que
ele trazia para mim. Aquele par de olhos de obsidiana são atentos e aquele
coração de cristal sente mais do mundo do que eu posso imaginar. Ele se
apresenta a mim aos poucos e eu o aceito o que ele me oferta. E assim vãos construindo
uma relação que vai além de rótulos.
Foi o ritual mais lindo de toda a
minha vida! Eu colhi beleza através do meu filho, a melhor colheira do mundo!